(Texto publicado na Revista “TAM-Nas Nuvens”)
Economistas não lêem muito sobre mitologia grega. Mas ela não passa incólume em nossos anos acadêmicos, graças ao livro de David Landes, “Prometeu Desacorrentado”. A obra, que trata do desenvolvimento das sociedades com a Primeira Revolução Industrial – ocorrida na Inglaterra no século XVIII -, sugere que os avanços da humanidade naquele instante foram equiparáveis a descoberta do fogo. Não quero falar sobre economia a quem procura relaxar, nem sobre fogo a quem está a bordo de um avião. Mas há algo mais na metáfora deste título literário.
Reza a lenda que Prometeu apresentou ao Homem o fogo, e o ensinou seu uso. Como castigo, Zeus, rei dos deuses, o acorrentou “para sempre”, por toda a eternidade. Incitar alguém menos capacitado para que brinque com o fogo, seja um garoto mais velho com uma criança menor , seja um deus ensinando a um humano, soa um tanto quanto imprudência. Talvez tenha sido essa a interpretação de Zeus. Mas não deve ser a nossa, deve?
Prometeu em grego quer dizer sensato. Prometeu achou sensato que o Homem conhecesse o fogo e aprendesse a usá-lo a seu favor, diminuindo sua dependência dos deuses. Para isso o Homem teria que vencer o medo do desconhecido. Um medo que alimenta-se mais de mitos do que de estatísticas, e um desconhecido que induz mais a muros do que estradas. Perceberíamos da estrada que vivemos num mundo de muitos perigos, mas com mais medo de perigos do que com perigos reais.
O mito de Prometeu é um caso interessante de como o arriscado pode ser o prudente. Medos sustentam dependências desnecessárias. Não por acaso há reis com medo que os medos acabem. Não por acaso devíamos todos ler mais sobre medo.
Bruno Pesca
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